Embora o Brasil tenha cumprido as promessas feitas, o consenso global ficou aquém do necessário para enfrentar a crise climática

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), realizada em Belém, encerrou neste sábado (22) com avanços considerados tímidos por especialistas e organizações ambientais. Embora o Brasil tenha cumprido as promessas feitas, o consenso global ficou aquém do necessário para enfrentar a crise climática com a urgência exigida pela ciência.
Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o desempenho brasileiro foi positivo, mas as decisões internacionais decepcionaram.
“Pro Brasil acho que foi um bom resultado, especialmente porque aquilo que ele disse que faria ele entregou. Agora, pro planeta, pro clima, as decisões ficaram muito distantes daquilo que a gente precisa”, afirmou.
Entre os pontos criticados está a criação de um Mapa do Caminho para a transição dos combustíveis fósseis, apresentado apenas no final da conferência e que será desenvolvido em 2026.
“Desde 2021, a Agência Internacional de Energia já diz que não deveríamos abrir novos poços de petróleo. Há um descompasso”, destacou Unterstell.
O Greenpeace também manifestou insatisfação com o texto final. Para a diretora-executiva Carolina Pasquali, o resultado é insuficiente, especialmente pela ausência de medidas concretas para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e conter o desmatamento.
“A decisão de criar os mapas do caminho tem gosto de prêmio de consolação. Permite que o trabalho continue, mas não é o avanço que o mundo desesperadamente precisa”, afirmou.
O posicionamento do Instituto ARAYARA reforça a crítica: “Não existe ‘transição justa’ com novos projetos de petróleo e gás e com a manutenção de cadeias de commodities dependentes de desmatamento. Um desfecho que evita nomear explicitamente a eliminação dos fósseis e do desmatamento, e não estabelece cronogramas claros. É um desfecho que falha com a ciência, com as comunidades e com as gerações futuras. Ele permite que o Governo Brasileiro continue leiloando centenas de novos poços de exploração de petróleo e gás em áreas sensíveis como a Amazônia e continue realizando leilões de reserva de capacidade de centenas de novas termelétricas fósseis.”
Pasquali aponta que os entraves refletem a influência de setores como combustíveis fósseis, agronegócio e outros grupos econômicos que seguem dificultando negociações mais ambiciosas. “Alguns países ainda não tratam a urgência como urgência, ou crise como crise”, acrescentou.
Apesar das críticas, a COP30 marcou avanços em engajamento social e inclusão de povos indígenas. A conferência homologou quatro terras indígenas, somando 2,4 milhões de hectares, além de publicar portarias declaratórias para outras dez. Mobilizações sociais, como a Marcha Global pelo Clima e a Cúpula dos Povos, também se destacaram, assim como anúncios de bilhões de reais para proteção de florestas.
Para especialistas, o legado de participação social deve ter impactos positivos duradouros, mas o alerta é claro: o mundo continua distante do ritmo necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
A COP30 encerrou com um acordo fraco que não prevê a eliminação clara de combustíveis fósseis nem do desmatamento, adiando decisões importantes para 2026. Enquanto o governo brasileiro avançou em concessões de petróleo, gás e termelétricas fósseis, o financiamento climático permaneceu vago e vinculado a interesses corporativos. Organizações como a ARAYARA denunciam a captura do processo, mas destacam a força da sociedade civil, que seguirá pressionando por ações concretas contra a crise climática.








