Capitaneada pelo cantor sertanejo e ex-deputado Sergio Reis (Republicanos), uma promessa de paralisação das atividades dos caminhoneiros ganhou destaque nas redes sociais neste domingo (15), principalmente após líderes da categoria negarem a participação no ato, considerado por eles como “político” e não de classe.
“Não nos envolvemos com política, nem a favor de governo ou contra governo, nem a favor do STF (Supremo Tribunal Federal) ou contra o STF“, disse Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava).
Chorão ainda mandou um recado ao cantor, que segundo ele, enquanto foi deputado federal, nunca pautou sequer uma demanda dos caminhoneiros:
“Nosso saudoso, grandioso cantor Sergio Reis. O senhor, quando deputado federal, o senhor nunca subiu na tribuna para falar em nome dos caminhoneiros“, lembrou.
Bolsonarista, Sérgio Reis disse, após reunião com alguns produtores, que sob sua liderança, caminhoneiros e agricultores vão “cruzar os braços“, e só voltam após o atendimento de reivindicações como o Impeachment de ministros do STF:
“Nós vamos parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País, não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro“, afirmou o cantor, que na sequência ameaçou até os próprios caminhoneiros que não atenderem o chamado.
“Nada vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de setembro, e se eles não obedecerem nosso pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio“, ameaçou ele.
Do alto da sua autoridade questionável, Sergio Reis diz ainda que pretende se encontrar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para apresentar uma “intimação“, Segundo ele, “não será um pedido, mas uma ordem“:
“Já entramos com pedido de o presidente do Senado nos receber no dia 8 de setembro, vou eu e dois líderes dos caminhoneiros, e dois líderes do sindicato da soja, para entregar a ele uma intimação, não é um pedido, é uma intimação, como se fosse um oficial de Justiça que fala ‘cumpra-se’“, disse o cantor.
“Enquanto o Senado não tomar essa posição que nós mandamos fazer, nós vamos ficar em Brasília e não saímos de lá até isso acontecer. Uma semana, dez dias, um mês e os caras bancando tudo, hotel e tudo, não gasta um tostão. E se em 30 dias eles não tirarem aqueles caras (ministros do STF), nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra.“
Além da ameaça à Suprema Corte, que é crime conforme a Constituição, o cantor sugere que o movimento conta com apoio financeiro para manter os manifestantes hospedados e alimentados em Brasília por mais de um mês. Seria uma forma de forçar os senadores a aprovarem o afastamento dos ministros do STF e o voto impresso.
Sérgio Reis também dá a entender que o presidente Jair Bolsonaro apoia o movimento. Ele afirma ter chegado de Brasília, onde teria almoçado com Bolsonaro e participado de uma reunião com produtores de soja, além de integrantes do Ministério da Defesa e do Exército, Marinha e Aeronáutica. “Todos os fortes. São pessoas importantes que não tinha ideia do que estava sendo preparado pelos caminhoneiros“, disse.
Consultado pelo Estadão, o presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), José Roberto Stringasci, que representa 45 mil motoristas autônomos disse que seus associados, na maioria, não vai aderir ao ato político: “A grande maioria não vai participar, pelo menos dos nossos associados”.
O Estadão tentou contato com Sérgio Reis para ele confirmar suas falas gravadas, mas o cantor não respondeu, assim como fez o partido Republicanos.