Em mais um caso suspeito de corrupção que se aproxima do candidato a prefeito de Valparaíso de Goiás, Marcus Vinícius (MDB), o aliado, que chegou a ser cotado como candidato a vice do emedebista, e presidente da Câmara Municipal, Alceu Gomes (UB), contratou R$ 38.400,00 em pratos-feitos no restaurante Figueiredo, considerado um dos mais luxuosos e caros da cidade, mas ninguém assume que comeu a comida.
De acordo com documentos entregues pela vereadora Cláudia Aguiar (PSDB) ao Ministério Publico (MP) e obtidos pelo Jornal, o contrato da Câmara com o restaurante de luxo, teria sido celebrado inicialmente pela dispensa de licitação 2024005328/2024, conforme print de tela de pagamentos do portal da transparência, para a aquisição de 800 pratos-feitos destinados aos vereadores, sob a alegação da necessidade de zelar pela saúde e o bem estar dos parlamentares, como consta no termo de referência.
A falta de transparência na contratação ainda eleva a suspeita sobre o caso, já que o Contrato por Dispensa de Licitação não aparecia no Portal de Transparência da Câmara nem pelo número citado na tela de pagamento, ano de referência ou CNPJ do restaurante, que em 2023 aparece várias vezes, inclusive pelo filtro “alimentação”.
Após o contato do Jornal com a Câmara Municipal para esclarecimento dos fatos, a tela de consulta dos pagamentos pelo serviço, apresentada na figura 01, deixou de exibir no campo “Licitação” o número 2024005328/2024 e passou a demonstrar o número 019/2024, que no seu escopo contradiz o Termo de Referência e fala em "atender os servidores em diversas atividades", servidores esses, que já recebem individualmente um auxílio alimentação de R$ 481,66 em seus proventos.
"Não, eu nunca comi no figueiredo e também nunca fui lá comer com a Câmara pagando", disse um servidor da casa na condição de anonimato, temendo retaliação.
"Todo servidor aqui da Câmara tem auxílio de alimentação, não há que se falar em comer por esse contrato, eu não comi essa comida e ninguém aqui que eu conheça comeu essa comida. Esse contrato era inexistente aqui para nós, até as denúncias começarem, ele não aparecia em tela. Têm que questionar o presidente", comentou outra servidora que também pediu para não ser identificada por receio de retaliação.
Entre os vereadores, Flávio Lopes (MDB) foi categórico em dizer que suas refeições são compradas todos os dias em um restaurante no Valparaíso II, "do lado do Amarelinho", Fábio Morais (PP) disse que não tinha conhecimento do benefício e que não participou de nenhuma atividade no Figueiredo. Já Édson Nunes (PSDB) também relatou desconhecer o contrato e que não comeu "nenhum prato-feito pago pela Câmara" no restaurante. Já vereadora Cláudia Aguiar (PSDB), que denunciou o fato e que também afirmou nunca ter se alimentado no local com o dinheiro público, disse que passou a frequentar o restaurante todos os dias para verificar a frequência dos vereadores lá, e que até o momento não encontrou nenhum par usufruindo da benesse.
O vereador Plácido Cunha (PDT) sugeriu que o a redação do Jornal consultasse a presidência da Câmara para saber se ele fez, ou não, refeições no restaurante, enquanto os parlamentares Antônio José (PDT), Jabá (UB), Zequinha (PL), Walisson Lacerda (UB), Elenir (MDB) e Tião da Padaria não se manifestaram.
Mesmo que nenhum vereador e nenhum servidor consultado tenha confirmado o uso do restaurante de luxo por conta da Câmara Municipal, o portal da casa indica que, entre 02 de abril e 07 de agosto, já foram pagos R$ 24.590,68 ao restaurante, o equivalente a 512,30 pratos-feitos.
O Jornal tentou entrar em contato com o restaurante Figueiredo, porém no dia 18 de agosto o atendente no aplicativo de mensagens disse que iria verificar se poderia passar algum canal de comunicação com um responsável pela empresa, mas não retornou. Já em 20 de agosto, as 17h58 a informação foi de que quem poderia responder pelo restaurante estaria lá no dia seguinte pela manhã e no dia 21 a informação mudou esse horário para o período da tarde.
Sobre as mudanças das informações no Portal da Transparência da Câmara, ocorridas após o contado do Jornal, o fiscal do contrato em questão informou que a casa estaria realizando uma sincronização entre a equipe que registra os pagamentos e a empresa de tecnologia que mantém o Site da Casa Legislativa.