Após o tenso depoimento prestado à CPI da Pandemia, o deputado Luís Miranda (DEM-DF) afirma ter dito aos senadores, em detalhes, exatamente como tudo aconteceu em sua conversa com Jair Bolsonaro (sem partido), quando levou, no dia 20 de março, ao presidente as suspeitas de “corrupção” na compra da vacina Covaxim.
Miranda ainda destaca, em tom de recado, não temer que sua versão sobre os fatos seja contestada por Bolsonaro, afirmando que se isso acontecesse, o presidente estaria obrigando-o a fazer o que não quer.
“Vamos contar com a possibilidade de o presidente voltar atrás [e desmentir Miranda]. Aí ele me força a fazer o que eu não quero. É o que eu tenho a dizer”, afirmou o deputado durante entrevista à CNN.
A confiança, a as afirmações de Luis Miranda durante entrevista dá a entender que a fala de Bolsonaro teria sido gravada, mas não por ele, e sim por seu irmão Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da saúde que teria sofrido as “pressões atípicas” para aprovar a importação da Covaxim que vinha apresentando “inconsistências” nos documentos.
Sob, juramento o parlamentar disse, que ele próprio não tinha gravado o presidente, mas que ele não estava sozinho e que seu irmão não foi indagado sobre isso:
“Vou sempre dizer que não existe da minha parte. E ninguém perguntou para o meu irmão [na CPI]. Assunto encerrado. Meu irmão não mentiu, mas eu não estava sozinho no encontro. Eu, como parlamentar, não iria gravar um presidente”, disse ele como se estivesse enviando um recado ao presidente e a seus defensores.
Luis Miranda frisa que, até o momento, não tem motivo para causar qualquer “constrangimento ao presidente”, porque Bolsonaro vem confirmando as afirmações feitas por ele.
“Primeiro, deixa o presidente fazer o movimento. Não vou me expor nem expor ele antes de ele errar. Ele, por enquanto, está ignorando os fatos. Porque ele sabe o que é verdade. Ele sabe que eu não menti. Então, vamos supor que ele resolva mentir… Ele ainda não fez isso”, disse o deputado.
Veja os principais pontos da entrevista concedida pelo deputado Luis Miranda à CNN:
CNN: O senhor tem como provar o que disse o presidente ao senhor no encontro em março?
Luis Miranda: Primeiro, deixa o presidente fazer o movimento. Não vou me expor nem expor ele antes de ele errar. Ele, por enquanto, está ignorando os fatos. Porque ele sabe o que é verdade. Ele sabe que eu não menti. Então, vamos supor que ele resolva mentir… Ele ainda não fez isso. Ele disse que estivemos lá, que ele mandou Pazuello verificar, que alteraram o invoice. Por enquanto, ele não desmentiu nada. Por que então eu vou constranger o presidente? Mesmo ele reagindo de uma forma inacreditavelmente agressiva, a base dele reagindo. O que eu fiz foi denunciar um suposto ilícito. Ele deveria me agradecer em ajudar a não ocorrer um escândalo mais grave.
Mas então vamos contar com a possibilidade de o presidente voltar atrás [e desmentir Miranda]. Aí ele me força a fazer o que eu não quero. É o que eu tenho a dizer.
CNN:O senhor, então, gravou o presidente?
Luis Miranda: Eu não. Mas eu não estava sozinho no encontro. Eu, como parlamentar, não iria gravar um presidente.
CNN: Seu irmão então gravou o presidente?
Luis Miranda: Não sei. Não falei nada disso. Vamos deixar meu irmão em paz.
CNN: Seu irmão estava presente no encontro com o presidente. Mas, ontem, o senhor citou o nome de Ricardo Barros na CPI, mas seu irmão optou por não confirmar essa informação. Por quê?
Luis Miranda: Porque meu irmão não quer confusão para a vida dele. Eu demorei oito horas para falar. E eu tenho mandato. Eu, como parlamentar, teoricamente a política legislativa deveria estar me protegendo e não tenho segurança nenhuma. Você acha que meu irmão quer uma briga dessa? Vamos colocar que amanhã o MPF e a PF chamem a gente. Eu sei que vamos falar a verdade. Eu disse tudo o que acontece. Eu não tenho mais nada para falar.
CNN: Mas há então uma gravação?
Luis Miranda: Vou sempre dizer que não existe da minha parte. E ninguém perguntou para o meu irmão. Assunto encerrado. Meu irmão não mentiu. Ainda podem perguntar a ele.
Ele pode dizer que era uma bomba tão grande que ele não tem mais a gravação (risos).
Veja, o presidente tem que falar a verdade. Para acabar com esse maremoto, é só falar a verdade. A verdade vos libertará. Acho que o presidente não vai mentir. Ele pode estar chateado por causa das consequências do depoimento. Acho errado porque confiamos nele. Levamos a ele. Quem tinha que ter esclarecido? O próprio presidente. E aí matava a intenção da CPI. A intenção da CPI era saber se o presidente prevaricou ou não. Se ele tivesse apresentado prova de que agiu, matava. Bastava ter tomado a linha de frente.
Não adianta tentar achacar a testemunha. Era dever do presidente ter mandado investigar. Se não fez, pede desculpas, tenta reverter, tenta resolver. Não venha atacar a pessoa que levou isso para ele.
CNN: O senhor se arrepende de ter citado Barros?
Luis Miranda: A verdade sempre é boa. O problema são as consequências. O presidente usa o nome de Deus muitas vezes com ódio. O nome de Deus é paz. Decepcionante ver a palavra de Deus sempre usada com ódio. O nome de Deus é paz, amor, compreensão. É tudo de bom.
CNN: Quais consequências o senhor se refere?
Luis Miranda: Ficou muito claro para a base governista que eu prejudiquei o governo. Ficou essa sensação para a base. Então, você perde parceiros que poderiam votar com você num projeto. Mas isso passa também. Nós não estamos falando só da Covaxin. Estamos falando do efeito colateral que contaminou a Covaxin. O mesmo grupo empresarial responde por outras suspeitas. Sabemos que a coisa está quase… Daqui a pouco explode. É ter paciência e deixar o tempo curar tudo. Porque, na hora que acontecer, vai ter muita gente que me olha como se fosse bomba me pedindo perdão. Não pode ser verdade um parlamentar sério apoiar corrupção na saúde quando tantas vidas estão sendo perdidas. Essa pessoa vai acabar sendo massacrada pela população.
CNN: O senhor acredita que “implodiu” a República, como chegou a mencionar a um auxiliar do presidente em uma das mensagens enviadas lá atrás?
Luis Miranda: A minha mensagem ali é clara: para o presidente tomar uma ação. Ou iria implodir a República. Parecia até que eu tinha adivinhado. A mensagem era: avisa ao presidente que é urgente. Acho que, se o presidente não fez o que eu acho que ele deveria ter feito, acho que vai ser difícil conseguir uma reeleição. Isso se ele não combateu, não coibiu. O pessoal agora está muito em cima. O MP, a PF, órgãos de controle. Agora todo mundo quer saber desse caso. Não tem mais como esconder nada. Vão reunir tudo isso e vai sair uma prisão cedo ou tarde. A opinião pública vai ficar um pouco decepcionada [com o presidente].
CNN: O senhor está falando do efeito eleitoral ou de um eventual risco de impeachment?
Luis Miranda: Estou olhando para o efeito eleitoral. Quem fala de impeachment é oposição. Eu não sou oposição. Sou base, mas que não defende coisa errada. Tem a esquerda, tem a direita. Eu sou Brasil. Gostam de falar que sou centro. Não gosto também. Não sou centrão. Sou Brasil.