O cotidiano corrido da garçonete Mara, de 22 anos é intensa. Moradora de Valparaíso de Goiás e funcionária de um bar/restaurante no Cruzeiro, cidade satélite do Distrito Federal, ela pega dois ônibus para ir e mais dois para voltar do trabalho para casa e cumpre um horário extenso. Diante desse dia a dia corrido ela disse não ter tempo para acompanhar o que acontece na política de Goiás, “mal assisto um jornal“, diz ela.

Mas para fazer a sua escolha de um candidato a deputado federal, nas eleições de outubro, Mara comenta já saber como fazer, vai recorrer ao seu tio Mauro Augusto e o primo Mauro Jorge, com quem divide o lote onde mora no Jardim Céu Azul.
"Eu vou falar com eles, com certeza, eles acompanham essas coisas essas coisas, chegam a pegar aqueles papelzinhos (santinhos) para ler mesmo, assistem tudo"
, disse a valparaisense que completou:
"Eles tem um comércio na cidade, passam 24 horas lá, comem a poeira das ruas esburacadas e veem os políticos subindo e descendo. Meu tio e meu primo sabem tudinho o que eles prometem e o que cada um é capaz de fazer de verdade."
Mara disse ainda, que a receita não é nova, em 2020 ela já havia recorrido aos parentes: "Na eleição para prefeito eu tinha chegado a pouco tempo aqui, eles me ajudaram a escolher e parece que acertaram, nossa candidata perdeu e deu no que deu, a cidade está um lixo, só enrolação. Tudo o que eles falaram desse aí é o que eu estou vendo mesmo"
.
Assim como Mara, quase metade do eleitorado brasileiro (49%) considera, de alguma forma, a opinião da família na hora de decidir o voto para deputado federal. É o que aponta levantamento realizado pela Quaest Pesquisa e Consultoria em junho, a pedido do RenovaBR. Desse total, 22% disseram levar muito em conta o que pensam familiares e parentes na escolha de um nome para uma vaga no Legislativo.
"As pessoas também consideram a opinião da família para o voto para o Executivo, mas, no caso do Legislativo, isso é mais acentuado justamente pela falta de informação que a gente tem, seja sobre o trabalho dos atuais deputados e senadores, seja sobre os candidatos"
, afirmou ao Estadão a cientista política Carolina de Paula, pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em um cenário no qual oito de cada dez eleitores entrevistados afirmaram já ter o voto para presidente da República decidido, segundo levantamento do Instituto Datafolha, os candidatos à Câmara dos Deputados acabam ficando em segundo plano.
Na avaliação de analistas ouvidos pelo Estadão, a maneira como o sistema eleitoral brasileiro é desenhado e a falta de conhecimento da população sobre o papel dos parlamentares contribuem para essa menor atenção ao voto para deputado e, consequentemente, para as realizações (ou falta delas) durante o mandato de cada congressista.
Para além da família, outros atores também influenciam na escolha de um candidato a deputado federal. A pesquisa Quaest mostrou que 42% dos entrevistados consideram a opinião dos candidatos a presidente, 35% ouvem colegas de trabalho e 25% consultam padres, pastores ou líderes religiosos para decidir o voto para a Câmara.
E essa tendência varia conforme a ideologia. Eleitores de centro, por exemplo, costumam levar menos em conta opiniões externas na hora de se decidir por um nome. Os que se dizem de direita, por sua vez, dão mais importância para a opinião de familiares e parentes do que eleitores de esquerda, conforme a pesquisa.
Esse conteúdo é um compilado de uma pesquisa divulgada pelo Estadão, mixada com a abordagem do Jornal Opinião do Entorno