Marcos Carvalho, principal marqueteiro da campanha de Jair Bolsonaro para presidente em 2018, marcada pelo uso das redes sociais, disse à colunista Consuelo Dieguez, que “o presidente (Jair Bolsonaro) terá a votação mais inexpressiva de um candidato à reeleição na América Latina“.
“O presidente Jair Bolsonaro não entregou nada do que prometeu na campanha. Depois que virou presidente, está fazendo essa gestão que estamos vendo, sem qualquer realização. Inaugurando caixa d’água, ponte pronta, e outras obras insignificantes. Foi incapaz de comprar uma vacina que foi oferecida a ele mil vezes, incapaz de tocar as reformas. Nem na área de segurança, que era uma de suas maiores promessas, algo foi feito“, constatou o marqueteiro.
Carvalho se afastou de Bolsonaro logo após a eleição, antes mesmo de tomar posse como coordenador de comunicação do novo governo, após ser atacado pelo filho Zero Dois do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro.
Para Marcos Carvalho, o último “highlight” que mantinha Bolsonaro conectado às expectativas dos seus eleitores de 2018 era seu discurso em defesa da honestidade na política, o que iniciou a ruir com o episódio Sérgio Moro e termina agora, com as descobertas feitas pela CPI da Covid-19.
“As suspeitas de corrupção que estão vindo à tona na CPI colocam por terra a última razão para o grosso do seu eleitorado continuar acreditando nas promessas de campanha”, disse Carvalho durante a entrevista concedida na quinta-feira (8).
Para a campanha 2018, Carvalho revelou ter feito vários levantamentos para entender a cabeça do eleitor de Bolsonaro e o que ele esperava do novo presidente da República. A conclusão é de que a maioria de seus eleitores não era bolsonaristas, mas pessoas que, em algum momento de suas vidas, votaram em Fernando Henrique Cardoso, em Luiz Inácio Lula da Silva e até em Dilma Rousseff. Um eleitor que poderia ter votado em João Amoêdo (Novo), Alckmin (PSDB) ou Ciro Gomes (PDT) naquele 1º.
“Quem o elegeu não foram os bolsonaristas. A grande maioria que votou em Bolsonaro poderia ter votado em outros candidatos no primeiro turno e só não o fez pelo sentimento antipetista. Pela sensação de que Bolsonaro era o único com condições de derrotar Lula e, depois, Fernando Haddad”, analisou.
Segundo Marcos Carvalho, o eleitor fiel de Bolsonaro, os bolsonaristas mesmo, são os 15% que ele tinha e continua mantendo. “Essa é a base dele. Que ele já tinha antes mesmo de a campanha começar para valer”, disse.
Carvalho avalia que, pessoas que votaram em Bolsonaro em 2018 não repetirão a dose em 2022:
“Uma eleição é feita de atributos funcionais e emocionais. Primeiro você escolhe o seu candidato e depois os motivos pelos quais você escolheu votar nele. Eles votaram em atributos absolutamente emocionais. A candidatura de Bolsonaro não tinha uma proposta, só conceitos e valores. A maioria dos eleitores estava convencida de que ele era o caminho para tirar o PT”, explicou.
Para Marcos Carvalho, na reeleição esse atributo emocional desaparece porque o eleitor já conheceu o trabalho do candidato e só voltaria a votar nele se ele apresentasse resultados. Na eleição de 2022, diz o marqueteiro, para esse eleitor comum, que nunca foi um bolsonarista, o atributo emocional desaparece: “Esse eleitor não repete o voto porque Bolsonaro não tem nenhum compromisso que precisa ser finalizado. Não tem uma obra a ser terminada. Não há nada a ser dado em continuidade”, argumentou .
Na avaliação do marqueteiro, o eleitor pode até continuar admirando o presidente, pode até pensar que o presidente tentou fazer algo, mas entende que, ao final, não conseguiu e se corrompeu: “Não existe no processo de reeleição um voto que priorize os atributos emocionais em detrimento dos atributos funcionais.”
Carvalho compara o comportamento do eleitor com o do consumidor diante de uma novidade de mercado: “O produto está sendo testado. Uma coisa é comprar algo que não se conhece. Outra coisa é saber se você quer ou não aquilo que você já testou. E se você não gostou do produto, você não compra mais”, contextualizou. Na reeleição é assim. O eleitor não está mais testando o candidato porque ele já conhece o trabalho daquele em quem votou. Portanto, esse voto não tem mais conceitos ou valores supostos envolvidos. “Na reeleição, nenhum componente emocional substitui a questão objetiva e funcional”, reforça ele.
Mais uma dificuldade eleitoral enfrentada por Bolsonaro, segundo Marcos, é a base raivosa que ele próprio criou, que o impede de ampliar seu espectro de eleitores.
Todas as vezes em que Bolsonaro tentou ampliar sua base, de acordo com Carvalho, ele ficou fragilizado, em razão da oposição dos seus próprios apoiadores. Um exemplo disso foi o discurso na sessão de abertura da reunião da ONU este ano, quando, “Pressionado pelo agronegócio mais moderno, que se sente ameaçado em razão do desastroso comportamento do governo em relação à questão ambiental, Bolsonaro tentou fazer um discurso garantindo a defesa do meio ambiente, assumindo, inclusive, alguns compromissos para melhorar o combate ao desmatamento”, ressaltou Carvalho.
Ao voltar para a sua base, a resultado foi que o presidente sofreu um forte ataque de seus apoiadores nas redes sociais, “ele apanhou tanto que, no dia seguinte, no cercadinho do Alvorada, em conversa com os bolsonaristas, retrocedeu em seu discurso na ONU.”
O eleitor independente, os “isentões”, como gostam de chamar os bolsonaristas radicais, passou a ver o presidente como alguém raivoso, sectário, que ataca o meio ambiente, é incapaz de lidar com a questão das vacinas para a Covid e de lidar com a pandemia. Além do mais, aproximou-se do Centrão e do toma-lá-dá-cá que criticava nos adversários.
Carvalho afirma que, na campanha, Bolsonaro angariou voluntários, eleitores não extremados e não bolsonaristas, que foram, segundo ele, os que realmente o elegeram. “Essas pessoas não estarão mais com ele em hipótese alguma. Ele não tem mais essa massa de eleitores”, afirmou, acrescentando: “Ele tem ruído na internet. Mas tire esse ruído e as pesquisas vão mostrar o seu verdadeiro tamanho.”