De acordo com uma nota, publicada no dia 14 de setembro, o candidato à Presidência da República Kelmon Luís da Silva Souza, que se autodenomina padre, não é membro da Igreja Ortodoxa. O texto é assinado por Dom Tito Paulo George Hanna, arcebispo da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia do Brasil.

"Chegou ao nosso conhecimento que muitos cidadãos têm questionado membros da nossa igreja a respeito de um candidato à Presidência da República pelo PTB que se auto apresenta como Padre Kelmon, utilizando insígnias de nossa tradição, sobre a veracidade de seu vínculo à nossa Igreja"
, começa o texto da Igreja Ortodoxa.
"Diante disso, esclarecemos que, em pleno respeito, mas também gozando da mesma liberdade de pensamento, consciência e religião prevista no 18º artigo da Declaração dos Direitos Humanos e no artigo 5º da Constituição Federal do Brasil, o referido candidato não é membro de nossa Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia do Brasil em nenhuma de suas paróquias, comunidades, missões ou obras sociais"
, diz o documento.
Kelmon se apresenta como sacerdote da Igreja Ortodoxa no Brasil, aparecendo em peças de campanha com vestimentas tradicionais da igreja. Ele chamou atenção no último sábado (24/9), por aparecer no debate do STB, com as vestimentas.
O agora presidenciável concorria como vice de Roberto Jefferson (PTB), mas obteve a cadeira de líder da chapa depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barrou a candidatura do ex-deputado.
Ainda segundo o documento, o suposto “padre” nunca foi seminarista ou membro do clero da Igreja em nenhum dos três graus da ordem, quer no Brasil ou em outro país.
Padres católicos questiona denominação:
Mesmo com as polêmicas, a candidatura de Kelmon, que completa dez dias neste domingo (25/9), ainda não o tornou conhecido entre todos os religiosos. “Eu teria que pesquisar para ver quem é e mesmo assim não saberia encontrar boas fontes. É aquela história... ‘De onde apareceu essa criatura?’ Só sei que padre católico ele não é”
, declarou o padre Otávio Juliano de Almeida, professor de Teologia da PUC Minas e pároco da Basílica do Santo Cura d’Ars, no bairro Prado, na região Oeste de Belo Horizonte.
Kelmon, que se define como “homem cristão, conservador de direita“, disse durante o horário eleitoral que “estão sexualizando as crianças nas escolas brasileiras“. Já o seu programa de governo é intitulado “Direita, graças a Deus“.
"Ele não tem comunhão. Nem em Roma, nem mesmo com qualquer igreja de rito ortodoxo. De maneira nenhuma alguém assim pode atribuir-se esse 'título'. Em se tratando de 'religioso', parece mais um 'outsider', que quer posar"
, declarou o padre Fabiano de Oliveira, da Igreja Católica Apostólica Romana.
O padre Edir Carvalho do Carmo, administrador da Paróquia Nosso Senhor dos Passos e São Cristóvão, em Sarzedo, na região Metropolitana de Belo Horizonte, ressaltou que a Igreja Ortodoxa é considerada pela Igreja Católica como um segundo pulmão, principalmente no Leste Europeu, e falou sobre as normas para os religiosos que querem entrar na vida política.
"O que eu posso dizer, como membro da Igreja Católica Apostólica Romana, é que quando um padre vai se candidatar a vereador, prefeito, presidente, ele tem que deixar o Ministério. A igreja não tem partido, apesar de ressaltar a importância do voto, que é uma conquista da sociedade"
, explicou.
O candidato a vice-presidente na chapa de Kelmon é o Pastor Gamonal (PTB), de 50 anos. Nascido no Rio de Janeiro, ele ocupa temporariamente a presidência do Movimento Cristão Conservador (MCC) da sigla partidária.
"Dizer-se de si mesmo, que se é padre, é muito fácil. Quase como Napoleão, que coroou-se a si próprio, negando o sinal divino encerrado neste gesto, este senhor manifestamente não tem comunhão com as referidas igrejas"
, ponderou Fabiano.
Kelmon nos debater na TV:
Mesmo com a candidatura recém-deferida, e sem aparecer nas pesquisas eleitorais, Kelmon teve direito a participar do debate do SBT na noite do último sábado porque o seu partido, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), possui mais de 5 representantes no Congresso Nacional. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou o suposto padre como motivo para não ir ao encontro, Kelmon aproveitou a oportunidade para elogiar o presidente Jair Bolsonaro (PL).
"O senhor tem ajudado muito esse país, e nós estávamos vendo aqui um massacre. Nunca tinha visto isso na minha vida. Cinco partidos se juntaram para bater num presidente da República com falácias e mentiras"
, declarou Kelmon, que, em seguida, reconheceu os problemas econômicos brasileiros, mas elogiou a gestão do chefe do Executivo federal.
Bolsonaro aproveitou a situação e usou o concorrente para criticar Lula. Durante uma pergunta, o presidente relembrou o discurso que fez semana passada na Organização das Nações Unidas (ONU), em que criticou a perseguição de religiosos, especialmente a Nicarágua, e citou o petista ao dizer que ele é amigo de Daniel Ortega, presidente do país.
"Padres são presos, freiras são expulsas do país. Rádio e televisão são fechadas. Ortega, o ditador, é amigo íntimo de Lula. E o Lula diz que essas questões nós não devemos nos envolver. Pergunto ao senhor Padre Kelmon, o Brasil deve fazer gestões contra esse tipo de ditadura pelo mundo?"
, questionou Bolsonaro.
Ainda durante o debate do SBT, a senadora Simone Tebet (MDB) se manifestou contra Kelmon. Ela afirmou que jamais se confessaria com ele, ao responder uma pergunta sobre aborto.
“Candidato, o meu conceito de feminista é diferente do seu conceito. Sabe o que para mim é ser feminista? Defender o direito das mulheres. De ganhar iguais salários que os dos homens porque a mulher preta no Brasil recebe até 40% menos. O meu feminismo é pela primeira vez uma mulher presidente da Comissão de Combate à Violência contra Mulher, exigir leis mais severas para colocar na cadeia homens que batem covardemente em mulher. É isso que é ser feminista”
, ponderou a candidata.
Já a menção feita por Lula ao candidato do PTB ocorreu durante a visita do petista à Ipatinga, no Vale do Aço, na sexta-feira. "Tem gente nova que eu não conheço. Faz uma semana que entrou um candidato que eu não sei nem quem é. Então, eu precisava estudar essa biografia desse cidadão, o histórico político dele, o que ele já fez"
, declarou. Entretanto, o ex-presidente também alegou incompatibilidade de agenda, já que tinha outros compromissos de campanha no horário do debate.
Fonte: Estado de Minas (em.com.br)