Reportagem do Estadão deste domingo, mostra que a proximidade do ex-jogador do Flamengo, Léo Moura, com bolsonaristas rendeu a sua ONG R$ 41,6 milhões do RP9, conhecido popularmente como “orçamento secreto”.
O valor chegou à entidade pela a indicação do deputado Luiz Lima (PSL-RJ) e do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) entre 2020 e 2021. O Olhar Olímpico mostrou que, ainda em meados de 2020, a ONG de Láo Moura já era recordista, mas os valores eram bem menores, até então, R$ 5,2 milhões no governo Jair Bolsonaro (PL).

Foto: Gilvan de Souza
A liberação dos recursos é feita pela Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, que tem como secretária a ex-nadadora Fabíola Molina, que foi colega de Luiz Lima na seleção de natação e é apadrinhada politicamente por ele.
Comparando, os R$ 41,6 milhões é mais do que vão receber do COB, juntas, as confederações de atletismo, basquete, boxe, canoagem, desportos aquáticos e vôlei.
Teoricamente o dinheiro visa pagar a estrutura de escolinhas de futebol, que funcionam em campinhos de cidades do Amapá, reduto eleitoral de Alcolumbre, e da região dos Lagos, no Rio, onde Luiz Lima concentrou seus votos na eleição de 2018, quando se tornou deputado federal pelo PSL com a bandeira do bolsonarismo.
Um dos convênios, assinado em outubro, prevê R$ 14 milhões para a instalação de 20 núcleos da escolinha de Léo Moura no Amapá, por um ano. Isso significa que cada uma delas terá, em média, R$ 700 mil para atender, segundo o projeto, “até” 300 crianças. Isso dá, na melhor hipótese, mais de R$ 2 mil por aluno.
Os orçamentos apresentados à Secretaria Especial do Esporte têm itens e valores incomuns para projetos sociais de escolinhas de futebol. Por exemplo: no convênio do Amapá são previstos R$ 132 mil em locação de caixas de som. Há também a previsão da realização de 400 campeonatos em um ano , em um ano, com a compra de 24 mil medalhas, quatro vezes mais o número de jovens atendidos, por R$ 120 mil.
São 20 núcleos, em 20 campos de futebol, mas o projeto prevê a compra de 160 redes. Cada núcleo terá 16 apitos profissionais, 16 sacos de bolas e 16 cronômetros. São 15 mil camisas, 15 mil shorts, 15 mil pares de meiões, 15 mil caneleiras e 15 mil pares de chuteiras, dois kits e meio para cada aluno. Só pares de luvas de goleiro serão 2 mil: 100 para cada núcleo. Serão compradas também 1,4 mil camisetas de professores. Ou seja: cada núcleo vai receber 70 camisas para os técnicos.
Ao Olhar Olímpico, o técnico da seleção brasileira de futebol social, Pupo Fernandes, disse que o valor de R$ 700 mil por núcleo "dá e sobra"
para um projeto social para 300 crianças. "Com 200 mil mensais conseguimos tocar um projeto social durante um ano. Com dois profissionais conseguimos manter o projeto funcionando no contra turno escolar e compramos material esportivos como bolas, cones e coletes, que são os mais utilizados nos projetos de futebol"
, afirmou ele, que administra duas escolinhas de futebol.
A reportagem do Estadão relatou que esteve em duas das unidades do projeto na última quinta-feira (06), uma em Teresópolis (RJ) e outra em Macapá. Na primeira, as atividades estão suspensas desde novembro. "No local há apenas um campinho de futebol com menos da metade das dimensões oficiais, sem marcações e grama só nas laterais. Segundo vizinhos que não quiseram se identificar, duas balizas sem rede, também fora do padrão, e um contêiner foram as únicas benfeitorias trazidas pelo projeto ao campo, q
ue já existia”, escreve o jornal.
Questionado pelo Estadão, Léo Moura ironizou o fato de ser o campeão de recursos no Esporte: "Acredito que as pessoas veem credibilidade nesse projeto e, a partir daí, viraram nossas parceiras. Eu me sinto um cara abençoado por ter sido agraciado com essas verbas e poder ajudar muitas crianças"
, disse.
Fonte: Estadão