Do pobre ao rico, todos os brasileiros já conseguem sentir a inflação que volta a assombrar o país.
A alta no preço dos alimentos que vinha apertando sobremaneira as famílias de menor renda desde 2020 não parou por lá e continua avançando. A carne, por exemplo, subiu cerca de três vezes o acumulado da inflação dos últimos 12 meses, que foi de 9,30%.
Os dados são extraídos da pesquisa feita para a definição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A diferença da inflação deste ano é que ela recebeu um componente altamente explosivo que fez a alta de preços se alastrar por toda a economia. Produtos que são considerados com valores de referência, isto é, que entram na composição de outros preços, como diesel, energia elétrica, por exemplo, dispararam e contaminaram toda a cadeia do comércio e serviços.
Deste grupo de produtos, o preço mais visível para o brasileiro de maior renda aparece na bomba de gasolina, com o litro vendido por até R$7. Para os mais pobres, o preço de referência é o gás de cozinha, cujo valor do botijão atualmente beira os R$ 100 e acumula alta de mais de 30% em 12 meses.
Segundo o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, “a inflação deste ano está mais ‘democrática’: atinge ricos e pobres“. Ele explica que enquanto alta dos preços batia só nos alimentos, os mais pobres eram os mais afetados, porque seu consumo se concentra nesses itens. Enquanto isso, as famílias mais abastadas não tinham a percepção, na mesma intensidade, de que a inflação tinha disparado.
O que se vê neste ano é que a pressão de preços se espalhou. A desvalorização do câmbio, que turbinou as cotações em reais do petróleo e dos combustíveis, e a crise hídrica, que afetou a geração de energia e as tarifas, além de ter reduzido a produção agrícola, fizeram a inflação tomar outro rumo.
“Agora a inflação é percebida por todos“, disse André Braz. A alta do preço do arroz, prato básico que pesa no bolso do brasileiro comum, foi 36,89% em 12 meses até agosto. Esse aumento praticamente se equipara ao avanço do preço da gasolina no mesmo período, de 39,52%, e é consumida com maior abundância pelos mais ricos.
Até produtos que foram considerados símbolos do Plano Real, responsável pela estabilização da economia brasileira a partir de julho de 1994, após um longo período de hiperinflação, entraram para a vala comum da alta de preços.
Vinte sete anos atrás, o quilo do frango inteiro custava um Real, hoje chega a quase dez Reais, subindo 22,89% só nos últimos 12 meses até meados de agosto. O iogurte, outro ícone, no passado, da estabilidade econômica e de alimento acessível aos mais pobres por conta da queda da inflação, hoje está do outro lado. O preço do produto subiu 14,09% nos últimos 12 meses até este mês, bem acima da inflação geral no período.