Áudios revelados nesta segunda-feira (5) apontam uma possível participação do presidente Jair Bolsonaro no esquema conhecido como “rachadinha”, que consiste no desvio de dinheiro público por meio da retenção de parte dos salários de assessores. A revelação é da jornalista Juliana Dal Piva, do portal UOL.
O áudio é atribuído a Andréa Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, portanto ex-cunhada de Bolsonaro, que o acusa de ter demitido seu irmão André porque ele se negava a devolver uma parte de seu salário como assessor parlamentar do então deputado federal Jair Bolsonaro.
“O André [irmão de Andréa] dava muito problema, porque o André [Valle] nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver seis mil, o André devolvia dois, três. Foi um tempão assim, até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’“, diz Andréa na gravação.
André Valle, foi assessor parlamentar de Bolsonaro entre 2006 e 2007. “Não é pouca coisa que eu sei, não. É muita coisa que eu posso ferrar a vida do Flávio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida da Cristina. Entendeu? É por isso que eles têm medo e mandam eu ficar quietinha“, afirma Andréa em outro áudio.
“Flávio” é Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente e investigado em um esquema de rachadinha em seu ex-gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj); já a Ana Cristina Siqueira Valle é a segunda esposa do presidente Bolsonaro e irmã de Andréa.
Em outro trecho, a ex-cunhada do presidente diz que ficava com apenas R$ 1 mil de seu salário quando era assessora de Flávio Bolsonaro.
“Na hora que eu tava aí, que eu tava fornecendo também, e ele também estava me ajudando, lógico, e eu também tava porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com sete mil reais… Então assim, certo ou errado, já foi, não tem jeito de voltar atrás“, afirma Andréa.
Entre 1998 e 2018, 18 parentes de Ana Cristina foram nomeados para cargos nos gabinetes políticos da família Bolsonaro. De acordo com o UOL, Andréa fez as revelações a duas pessoas entre 2018 e 2019, sendo que uma delas, sob a condição de anonimato, aceitou mostrar os áudios originais.
Andréa foi assessora de Bolsonaro entre 1998 e 2006; do vereador Carlos Bolsonaro entre 2006 e 2008; e do senador Flávio, então deputado estadual, entre 2008 e 2018.
Ainda segundo o UOL, a defesa da família de Ana Cristina não vai se pronunciar e o advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, afirmou que a gravação é “clandestina” e não foi submetida a “perícia”.