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Deputado Bolsonarista usa ‘hacker’ preso por invadir contas, para produzir vídeo com Fakes sobre urnas eletrônicas

O deputado bolsonarista Felipe Barros (PSL-PR) mandou uma equipe ao presídio Professor Jacy de Assis, em Minas Gerais, para gravar uma vídeo com o ‘hacker’ Marcos Roberto Correia da Silva sobre suas supostas habilidades de invadir e fraudar eleições a partir das urnas eletrônicas.

Urnas eletrônicas usadas nas eleições brasileiras a 25 anos e em 13 pleitos / Foto: Reprodução

Recheado de informações falsas a respeito do sistema, o vídeo editado trilha sonora de suspense e roupagem de algo ‘bombástico’ já teve mais de 500 mil visualizações e foi compartilhado por canais e sites bolsonaristas, que tentam convencer parlamentares e a opinião pública da suposta fragilidade do sistema eleitoral em vigor no país.

As urnas eletrônicas são usadas no Brasil desde as eleições municipais de 1.996, portanto em 13 eleições, sendo sete municipais e 6 federais, ao londo de 25 anos, sem que nenhuma fraude tenha sido minimamente comprovada.

Preso pela primeira vez em 2019 por atacar sites governamentais e aplicar golpes usando dados de cartões de crédito roubados, o “garoto propaganda” da tese bolsonarista é considerado pelos investigadores muito menos qualificado do que ele próprio tenta parecer ser.

Marcos Roberto Correia da Silva ( Vandathegod) é peso na Operação Deepwater Uberlândia
Foto: Michele Ferreira (G1)

Marcos Roberto foi perguntado se com tempo e estrutura conseguiria “invadir o sistema eleitoral”, algemado ele afirmou que “conseguiria” e afirmou que poderia inserir votos artificialmente em servidores, “manipularia tudinho“.

Desde que foi implantado a Justiça Eleitoral usa tecnologia de ponta e recebe especialistas independentes para acompanhar testes públicos dos sistemas de segurança das urnas além das eleições e apurações propriamente ditas, onde nada do que o “hacker” disse foi atestado.

No dia em que foi gravado pela equipe do deputado, o hacker contou ter sido chamado para conceder “entrevista a uma empresa de cibersegurança“. O criminoso foi levado ao cartório da prisão, sem seu advogado, onde duas pessoas o aguardavam com câmera. Uma terceira fez perguntas por meio do celular de um dos presentes.

Os advogados do ‘hacker’ tomou ciência da gravação só após ela ir ao ar. Para eles, houve claro prejuízo à defesa e às garantias do preso, uma vez que o rapaz foi submetido a um contexto que pode implicá-lo em processos a que responde sem que tenha tido orientação técnica. “O deputado usou o Marcos como boneco de manobra política”, diz o advogado André Coura.

Questionada sobre o vídeo gravado no presídio, com uso de comunicação proibida, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais frisou que as questões deveriam ser feitas ao deputado. e acrescentou que o bandido “aceitou ser entrevistado” sem o advogado. A pasta de segurança no estado é comandada pelo bolsonarista Rogério Greco, ex-procurador de Justiça de Minas Gerais.

A pedido do parlamentar autor do vídeo, o sistema prisional mineiro “ampliou a segurança” do hacker, que agora está em cela individual. A equipe fez o preso assinar declarações em que atesta que a entrevista foi espontânea. Os documentos não citam o deputado Felipe Barros, mas que as filmagens seriam usadas apenas “no âmbito do debate da PEC 135/2019“.

O nome de Marcos aparece em dois crimes cibernéticos recentes: o ataque ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de novembro, e o vazamento de dados da Serasa de mais de 200 milhões de CPFs. Ele também esteve envolvido em invasões anteriores, como à página do Senado. O ataque ao TSE, explorado pelo deputado, não gerou prejuízo ao sistema de votação e à contagem de votos. Os dados vazados eram administrativos.

No depoimento à equipe de Barros, o hacker mudou a versão em que negava a invasão do TSE. Disse que entrou no tribunal e passou informações a outra pessoa. Até então, a responsabilidade por esse ataque era do hacker português Zambrius, que foi preso em Portugal e afirmou ter agido sozinho.

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