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Copom mantém taxa Selic em 10,50% e interrompe sequência de cortes

Na última semana, o mercado financeiro brasileiro apresentou flutuações, influenciando na decisão do Copom

Banco Central do Brasil / Foto: Reprodução (Mercado e Consumo)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve, nesta quarta-feira (19), sua taxa básica de juros, a Selic, em 10,50%, interrompendo a sequência de cortes. Na última semana, o mercado financeiro brasileiro apresentou flutuações.

"O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes", diz trecho do comunicado do comitê.

O índice Bovespa registrou uma queda acentuada, enquanto o dólar ultrapassou a marca de R$ 5,40. Além disso, os juros futuros brasileiros mostraram uma tendência de alta. As incertezas políticas internas e a conjuntura internacional desafiadora foram apontadas como as principais causas dessas movimentações.

Internamente, a inflação, medida pelo IPCA, superou as expectativas. A deterioração do quadro fiscal e a desancoragem das expectativas econômicas contribuíram para a depreciação cambial. Externamente, a conjuntura internacional adversa adicionou pressão ao mercado nacional.

O compromisso com a convergência da inflação à meta é essencial pela maioria dos conselheiros da instituição, e o Banco Central enfatiza a importância de sinais claros sobre a evolução macroeconômica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a fazer críticas contra Campos Neto, presidente do Banco Central, acusando-o de estar aliado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

Antes da reunião, a Confederação Nacional da Indústria se manifestou sobre a atual taxa Selic, de 10,5% ao ano, considerando-a elevada e prejudicial à atividade econômica. Segundo a CNI, a alta taxa de juros dificulta o acesso ao crédito, reduz o crescimento econômico e afeta negativamente o emprego e a renda.

A CNI recomendou a continuidade do ciclo de cortes de juros, sugerindo uma redução de 0,25 ponto percentual. Mesmo com esses cortes, a política monetária permanece contracionista, com a taxa de juros real estimada em 6,4% ao ano, acima da taxa de juros real neutra, que é de 4,5%.

A previsão de crescimento do PIB para 2024 é menor, em 2,08%, comparado a 2023, que foi de 2,9%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 2,2% para o Brasil, inferior à média de 4,2% dos países em desenvolvimento.

A CNI não vê a atual inflação justificando a interrupção nos cortes da Selic, com o IPCA desacelerando até abril de 2024, embora tenha acelerado em maio. As expectativas de inflação para 2024 subiram para 3,96%.

Veja o comunicado do Copom

O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.  O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. 

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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