No especial, sob o título “A década sombria do Brasil”, a revista descreve o presidente como um homem que quer “destruir as instituições, não reformá-las”
O Cristo Redentor usando uma máscara de oxigênio estampa capa da edição desta quinta-feira (03) da The Economist , revista britânica entre as mais conceituadas do mundo. Sob o título “A década sombria do Brasil”, traz duras críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, frisando que o país enfrenta hoje “a maior crise desde o seu retorno à democracia em 1985”.
A revista aponta que o Brasil tem desafios “assustadores’ a serem superados, além do pesadelo da pandemia da Covid-19 . É preciso encarar a “estagnação (da economia), a polarização política, a ruína ambiental e o retrocesso social“. Tudo isso enquanto lida com um presidente que “mina o próprio governo”, substituindo técnicos por seguidores em cargos administrativos, publicando decretos que lesam as finanças do país.
Pelo resumo da The Economist, após amargar uma década de problemas na política e na economia, o Brasil encontra-se agora “em coma”, tendo Bolsonaro como médico.
As reportagens que compõem o especial (são sete ao todo, cobrindo mais de uma dezena de páginas) trazem dados sobre corrupção, o desmatamento da Amazônia, a importância das reformas estruturais saírem do papel, do jogo político com suporte de evangélicos e apoiadores da venda de armas à população. Mostra ainda como o governo se afastou da bandeira liberal, que tinha o ministro da Economia, Paulo Guedes, antes seu principal chamariz e hoje com a equipe esvaziada e sem conseguir avançar na agenda prevista.
Logo na abertura, a revista relembra que em abril último, enquanto o país registrava três mil mortes por Covid-19 ao dia e faltava oxigênio nos hospitais, Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, tomou a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus em segredo. Como deixou escapar posteriormente, o general de quatro estrelas frisou que o presidente é anti-vacina.
O episódio, em que a revista destaca ainda a declaração de Bolsonaro de que teria travado a aprovação da Pfizer no país “por que a vacina transforma as pessoas em jacaré”, foi usado para dar a dimensão “do tamanho do buraco em que o Brasil está”. E resume a carreira do presidente no Exército tendo como único destaque o momento em que foi preso por insubordinação. Já nos 27 anos de atuação como congressista, ele é descrito como alguém que tinha destaque apenas com falas para “ofender mulheres, indígenas e gays”.
Não é a primeira vez que a The Economist dedica uma edição inteira ao país, já houve outras. Em 2009, trouxe uma edição estampada com a imagem do Cristo Redentor decolando como se fosse um foguete, numa referência ao avanço econômico do país. Quatro anos depois, em 2013, veio a capa “O Brasil estragou tudo?”, agora com a imagem do Redentor caindo em um voo desgovernado, já abordando a trava ao crescimento, a expansão da inflação.
Em 2016, veio o especial “A traição do Brasil”, em meio ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que era apontada como responsável pelo fracasso econômico do país. Em paralelo, a revista sustentava que aqueles que trabalharam pela saída dela do cargo representavam uma atuação ainda mais danosa para o Brasil. A imagem estampada na capa era a do Cristo Redentor segurando uma placa onde se lia “SOS”. Um ano antes, outra capa alardeava “O atoleiro do Brasil”.
Há dois anos, no início do governo Bolsonaro, a revista levou à capa crise ambiental no país, ilustrada com tocos de árvores derrubadas. Um deles exibia o formato do mapa do Brasil, chamando atenção para o “fantasma da morte” na floresta.