Conteúdo original de Arthur fontes / Jornal Extra
Animal invasor sem predador representa risco à fauna marinha e à pesca

O peixe-leão, espécie nativa do Indo-Pacífico, foi identificado em diversos pontos do litoral alagoano e preocupa pesquisadores pela ameaça que representa à fauna marinha e às atividades econômicas da região. Segundo o professor e biólogo Cláudio Sampaio, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o animal tem características que o tornam um invasor eficiente: “Não possui predadores naturais nas áreas invadidas, tem espinhos venenosos, hábito alimentar generalista, reprodução precoce e alta longevidade”.
O primeiro registro da espécie no Brasil ocorreu em 2014, no Rio de Janeiro. “Depois, em 2020, foi capturado nos recifes amazônicos, do Amapá ao Ceará. Invadiu Fernando de Noronha em 2022, os litorais do Rio Grande do Norte em 2023 e, em 2024, chegou à Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Este ano, atingiu a costa da Bahia”, informou Sampaio.
Querendo ou não, o peixe-leão veio para ficar nos mares do Brasil. Sem predadores naturais e com uma reprodução muito rápida, chegando a colocar até 30 mil ovos de uma só vez, a espécie consegue se espalhar com facilidade e se adaptar a diversos ambientes marinhos, o que torna quase impossível controlar sua presença.
Em Alagoas, o peixe-leão foi encontrado em recifes da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, em naufrágios de Maceió, na Lagoa Azeda e no Pontal do Peba. Os registros ocorreram durante pescarias com arpão, redes de caceia e arrasto de camarão.
De acordo com o professor, o peixe-leão é um predador voraz, capaz de consumir peixes e crustáceos que fazem parte da pesca artesanal e comercial.
"Ele causa desequilíbrio ecológico e impacto econômico, pois compete com espécies nativas e reduz estoques pesqueiros", disse.
Ainda conforme o especialista, os espinhos venenosos podem provocar acidentes dolorosos em mergulhadores e pescadores desavisados. Se uma pessoa for ferida pelos espinhos, esse “veneno” pode causar dor, náuseas e, em casos mais graves, convulsões.
Vele ressaltar que o peixe não deve ser manuseado sem equipamento adequado. Em caso de acidente, recomenda-se aplicar água quente entre 40°C e 45°C por 30 minutos e procurar atendimento médico. “Caso você veja ou tenha pescado acidentalmente o peixe-leão, tenha cuidado e não solte o peixe, se possível traga no gelo e avise aos órgãos ambientais mais próximos”, indicou.
Plano de Contenção
Para conter a expansão da espécie, a UFAL, em parceria com o ICMBio, IBAMA, Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL) e projetos ambientais como Conservação Recifal e Meros do Brasil, tem promovido ações de conscientização, capacitação e manejo. “Estamos divulgando os riscos do peixe-leão e orientando pescadores e guias turísticos sobre como proceder em caso de avistamento ou captura”, destacou Sampaio.
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) realiza, em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e empresas de mergulho, ações de monitoramento sistemático nas áreas recifais da Grande Maceió. As atividades têm como objetivo acompanhar e registrar a presença de espécies marinhas, especialmente as exóticas, em regiões de maior vulnerabilidade ambiental.
O trabalho é concentrado na zona de exclusão da Piscina do Amor, área de grande fluxo turístico e alta sensibilidade ecológica; nos bancos recifais próximos ao Porto de Maceió, que apresentam intenso tráfego de embarcações; e na área portuária, usada como ponto de observação e registro de organismos marinhos que possam representar riscos ao ecossistema local.
Fora isso, o IMA tem promovido a integração interinstitucional e científica, por meio de diversas iniciativas voltadas à prevenção e controle do peixe-leão nas águas costeiras do estado. Entre essas ações, destacam-se os programas de monitoramento ambiental contínuo nas áreas recifais e de mergulho costeiro, que têm como objetivo identificar e registrar a presença e a densidade populacional da espécie.
Segundo o Gerente de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo César, o cenário projetado para os próximos anos é altamente preocupante, considerando que o litoral de Alagoas apresenta condições ambientais favoráveis à expansão do peixe-leão, como temperaturas elevadas e estabilidade térmica das águas costeiras.