“Plano sinistro” e “lição de democracia” são formas como NYT, Washington Post e Economist chamam o processo que leva o ex-presidente ao banco dos réus

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa nesta terça-feira (2), ganhou destaque nos principais veículos da imprensa internacional.
Jornais de todos os continentes ressaltam o caráter inédito do processo, que é o primeiro que leva um ex-presidente brasileiro ao banco dos réus por uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Além disso, apontam que o caso foi além das fronteiras do país, com desdobramentos econômicos, como a reação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que estabeleceu uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros. O norte-americano justificou, em carta aberta, que a medida seria uma resposta à “perseguição” do Judiciário ao aliado.
"O caso ganhou atenção global depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, o denunciou como uma ‘caça às bruxas’ contra seu aliado e retaliou impondo uma tarifa de 50% sobre muitos produtos brasileiros", escreveu a agência Reuters.
O jornal francês Le Monde teve o mesmo raciocínio, com destaque para o enfraquecimento na relação entre Brasil e Estados Unidos. "O julgamento criou uma profunda divisão entre Lula e o presidente dos EUA, Donald Trump, que criticou o indiciamento do seu aliado Bolsonaro como uma ‘caça às bruxas’ e puniu os responsáveis por colocá-lo no banco dos réus", disse o periódico, referindo-se às sanções Washington contra Alexandre de Moraes e outros juízes do STF.

O New York Times trouxe uma linha do tempo do que chamou de “plano sinistro” traçado por Bolsonaro e aliados após a derrota nas eleições, e ressaltou o conjunto de provas coletado pela PF que apontam para a tentativa de romper com o processo democrático.
O NYT comparou, ainda, o processo ao dilema enfrentado nos EUA após a invasão do Capitólio em 2021 e destacou que o Brasil está fazendo algo que os americanos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por tentar se manter no poder.

Já o Washington Post avaliou que o país “enfrenta Trump e seu passado autoritário”, e rompe com uma tradição de perdão para crimes contra o Estado democrático. Para o jornal, trata-se de uma "virada institucional" inédita na história brasileira.
"Desde a sua fundação, o espectro do autoritarismo paira sobre o Brasil. O país sofreu mais de uma dúzia de tentativas de golpe e passou décadas sob ditaduras. Mas ninguém na história brasileira — nem general nem político — jamais foi julgado em um tribunal por subverter a vontade do povo. Até agora", afirmou o Washington Post.

A revista britânica The Economist voltou a se referir a Bolsonaro como “Trump dos trópicos” e classificou o julgamento como uma “lição de democracia” para os Estados Unidos. Em edições recentes, a publicação descreveu a tentativa de golpe de 8 de janeiro como um episódio “esquisito e bárbaro”.
O espanhol El País chamou o julgamento de “o mais importante da história recente do Brasil” e afirmou que a ofensiva política de Trump não mudou a posição do Supremo.
O britânico The Guardian destacou o “velório político” promovido por manifestantes em frente ao tribunal, com direito a trompetista tocando Bella Ciao.

Já o italiano Corriere della Sera alertou para um “setembro de alta tensão”, diante do risco de protestos de apoiadores do ex-presidente.
O Clarín, da Argentina, fez uma análise dos próximos movimentos dos aliados de Bolsonaro que, segundo o jornal, já consideram que o ex-presidente será condenado. Essa “disputa” pelo apadrinhamento do ex-mandatário já estaria causando rachas na ala bolsonarista, diz o texto.
"No seio da direita moderada, já começaram a surgir nomes para concorrer às eleições de 2026, nas quais Lula, de 79 anos, pretende se candidatar à reeleição. Sem citar nomes, um dos filhos do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, criticou em X os “ratos” que “só querem herdar” o capital político de seu pai", escreveu a reportagem de Ramon Sahmkow.