Autora de diversas denúncias de irregularidades na administração pública de valparaisense, em especial ocorridas ou vigorando nos últimos dois anos, a vereadora Cláudia Aguiar (PSDB) apontou para a promotora da 3ª Promotoria de Justiça de Valparaíso de Goiás, doutora Oriane Graciane de Souza, e disse que casos de corrupção não estariam sendo investigados na cidade.

"Eu fui ao Ministério Público, marquei né, para falar sobre essa denúncia da Central de Óbitos, denúncia essa que eu fiz em abril de 2021, ou seja, vai fazer dois anos que eu fiz essa denúncia, que a gente recebeu essa denúncia e que eu venho falando no Ministério Público. Eu já tinha ido duas ou três vezes no Ministério Público, eu não me lembro, falar com ela sobre esse assunto, denunciei em Goiânia também e deu no que deu. Ela me falou na última vez que eu fui no Ministério Público, eu posso te falar até a data, porquê nós tiramos uma foto lá na frente, que eu estava, com outras palavras, ela não falou com essas palavras, mas para um bom entendedor meia palavra basta, que eu estava atrapalhando o trabalho dela, que eu estava fazendo ela perder tempo comigo, que eu não estava levando nenhuma informação importante. Ai quando eu falei do caso do Agley (diretor da Central de Óbitos do município), de toda a corrupção, de todas as informações, de todo o favorecimento que ele estava dando para as empresas que não estavam cadastradas no município, que estavam trabalhando ilegalmente no nosso município, ela foi curta e grossa comigo e disse essa seguinte frase, frase dela: 'Você trabalha na Central de Óbito?' Eu respondi não. 'Você fica 24 horas dentro da central de óbitos?' Eu respondi não. Aí ela me falou assim: 'Então você não pode provar nada'"
, desabafou a parlamentar.
No áudio seguinte, enviado pela vereadora ao Jornal, ela diz que está a serviço da população que a elegeu e que, mesmo a promotora não recebendo as denúncias, “sendo omissa” segundo suas palavras, ela vai continuar denunciando o que achar devido fazê-lo:
"Aí depois que ela me falou isso, ela disse que não tinha mais nada para conversar comigo e me pediu para eu saís, né? Assim, educadamente. Aí ela esquece que eu não sou funcionária da Central de Óbito, que eu não sou indicada do governo para trabalhar na Central de Óbito, ela esquece que eu sou vereadora, eleita pelo voto popular, eu fui eleita pelo voto popular, eu não sou suplente, eu não estou lá por indicação do prefeito, ou de nenhum vereador. Quem me colocou lá foi o povo e eu não trabalho para a Oriane, eu não trabalho para o (prefeito) Pábio Mossoró e eu não trabalho para nenhum político do nosso município ou do estado de Goiás, eu trabalho para a população de Valparaíso, meu compromisso é com a população de Valparaíso. Então a Oriane gostando ou não, aceitando ou não, a minha postura ética e honesta de trabalhar aqui o Valparaíso de Goiás eu vou continuar denunciando, Eu vou continuar denunciando, eu vou continuar denunciando mesmo ela sendo omissa, mesmo ela não querendo aceitar, investigar as minhas denúncias, porque as minhas denúncias aqui no Ministério Público de Valparaíso não são válidas, não são verdadeiras. 'Eu estou inventando, eu estou mentindo'. É isso que ela me passa o tempo todo. Agora eu te pergunto: Como que um Ministério Público de um município como esse, que tem mais de 220 mil habitantes, desde abril de 2021, recebendo denúncias mensalmente, por mim, por outras pessoas, nunca, nunca, intimou o secretário, nunca intimou o Agley (Diretor da Central de Óbitos), nunca pediu nada deles, para saber a verdade, para saber quem está mentindo, quem lesando o patrimônio público de Valparaíso de Goiás, pelo contrário, eu vi ela falar para o Fernando, no dia que eu fui lá com o Fernando (proprietário da Funerária Boa Esperança, única legal na cidade até então), que ela tinha arquivado o caso do Fernando porquê o Fernando estava faltando com a verdade, aí, depois que veio de Goiânia, a questão do Paulo (Brito), ela desarquivou a denúncia do Fernando."
Para a vereadora, mesmo com fortes elementos indicando os casos de corrupção, como prints de mensagens escritas combinando os atos ilegais, como comprovantes bancários para pagamento das supostas propinas, áudios e até testemunhos com confissões, a promotora não estaria dando andamento mínimo ou adequado para as denúncias:
"Mesmo tendo provas reais, mesmo tendo o Fernando falando que existe corrupção, agora tem o Serginho falando que tem corrupção, agora tem essa Noeli que é prova viva dessa corrupção, nós temos vídeos, se você fuçar aí na internet, nós temos vídeo do Fernando e o Serginho saindo na porrada lá em frente ao CAIS, na po***ada. Aparece até aquele Bahia e outros funcionários do CAIS, onde o Fernando pegam o Serginho retirando um corpo ilegalmente do CAIS e aí, o sistema é maior que a justiça. Moral da história do caso desse vídeo, Sabe quem saiu com o corpo? Não foi a empresa credenciada, que é a empresa do Fernando, que é a empresa Boa Esperança, quem saiu com o corpo foi a Dom Bosco. Sabe por quê? Porque era indicação do secretário, era indicação dos funcionários da promoção social, da Central de Óbitos. Então aqui no nosso município o que prevalece é você ser bandido, se você for bandido você tem respeito, agora se você trabalhar igual eu, que estou trabalhando igual a uma desgraçada, sendo ameaçada o tempo todo, sendo coagida e perseguida o tempo todo por quem lesa o nosso município, aí você não tem valor".
A suposta existência do esquema de corrupção na Secretaria de Assistência Social de Valparaíso, a quem é subordinada a Central de Óbitos, que teria desviado pessoas mortas para funerárias clandestinas, culminou na denúncia anterior de outro crime no governo do prefeito Pábio Mossoró (MDB), esse executado na Superintendência de Arrecadação Tributária que, segundo a parlamentar, só resultou na prisão e cassação do ex-vereador Paulo Brito (PSC), membro da base governista na Câmara Municipal, porque foi denunciado em Goiânia e ganhou repercussão.
Cláudia Aguiar ainda emenda e diz que a alegada omissão da promotora não se restringiria a somente o caso batizado pela imprensa de “tráfico de mortos“, mas que estaria presente em outros temas, ligados por exemplo à saúde pública:
"E tem mais, ela não está sendo omissa só nesse caso da Promoção Social não, da Central de óbitos não, ela está sendo omissa com a secretaria de saúde, naquele caso da SAMU, caso esse que você mesmo me acompanhou como jornalista, você fotografou e pode comprovar as irregularidades, caso esse da SAMU, que nós temos 16 funcionários que trabalharam e não receberam durante três meses e que ela tem esse conhecimento, porquê eu mesma como vereadora fiz a denúncia, os dezesseis funcionários, não vou falar os 16, mas alguns desses funcionários também fizeram a denúncia no Site do Ministério Público, sem se identificar, claro, porquê todo mundo tem medo de morrer aqui nesse Valparaíso, tem medo de denunciar, porquê aqui quem denuncia a corrupção ou morre ou é demitido né? A gente tem essas duas opções, ou é perseguido, ameaçado de morte, ou você é demitido. Eles também denunciaram, por que ela não me deu uma resposta disso. Eu oficializei tanto o Ministério Público quanto a secretária de saúde e até hoje eu não tive resposta. Eles não tem coragem e nem o respeito e nem a educação de responder um oficio de uma vereadora"
, disse a ela que seguiu com outros exemplos, como caso de funcionários fantasmas, a compra de votos na Câmara Municipal, a regularização do transporte público, questão ambiental no Valparaíso II, a falta de médicos, medicamentos e outros.
O Jornal entrou em contato antecipado por e-mail com a promotora citada, e não recebeu resposta.
A prefeitura de Valparaíso também não retornou ao contato da redação.