O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou de “cara de pau” e “sem caráter” os signatários da Carta pela Democracia, documento organizado pela Faculdade de Direito da USP em reação aos ataques do chefe do executivo nacional contra as urnas eletrônicas em reunião com diplomatas estrangeiros de mais de 40 países.

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A carta conta com mais de 660 mil adesões da sociedade civil, além de juristas, ministros eméritos do Supremo Tribunal Federal (STF), docentes universitários, membros dos tribunais de contas e do Ministério Público, empresários de vários setores, banqueiros, artistas e líderes políticos, incluindo candidatos à Presidência, entre outras personalidades de diversas categorias.
"Pessoal que assina esse manifesto (por democracia) é cara de pau, sem caráter
“, declarou o presidente nesta terça-feira (2), em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre.
"Não vou falar outro adjetivo aqui porque eu sou uma pessoa bastante educada"
, completou.
Bolsonaro insinuou que todos os signatários da carta têm interesses escusos para tirá-lo do Planalto. "Geralmente, quem fala que é defensor da democracia é um ditador"
, disse.
"Olha quem assinou: banqueiros. Banqueiros estão contra o Pix (...) Veja o padrão das outras pessoas: artistas, que foram desmamados da Lei Rouanet. Olha o perfil dos políticos. Veja o que esse pessoal de esquerda que assinou o manifesto pela democracia fala de Cuba?"
, esbravejou o mandatário do país.
O discurso adotado por aliados do governo desde a revelação da carta é de que se trata de iniciativa “contra” Bolsonaro. No último dia 26, o ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (PP-PI) insinuou que banqueiros estariam participando do manifesto por terem perdido “R$ 40 bilhões” por ano como suposto resultado do sucesso do Pix.
"Então, presidente, se o senhor faz alguém perder 40 bilhões por ano para beneficiar os brasileiros, não surpreende que o prejudicado assine manifesto contra o senhor"
, escreveu o ministro em uma rede social, inaugurando a argumentação repetida nesta terça-feira pelo presidente.
A tese não procede; como mostrou o Estadão, a perda de receita após um ano de adoção do Pix foi inferior a 2% do lucro dos bancos em 2021.